Você está vivendo uma vida de plena felicidade: comprou um carro, tem um bom casamento, uma linda família, um excelente emprego. Mas, de repente, sua melhor companhia, morre. Tudo muda e a felicidade é alterada por um sentimento de vazio e perplexidade. Tudo na vida acaba, e somos treinados a saber dizer adeus, mas deixar ir o que marca nossas vidas, nem sempre é um processo fácil.
O luto não é apenas uma resposta emocional à morte de um ente querido, mas um processo complexo. “É um conjunto de reações esperada quando ocorre a perda de um familiar, ou de algo muito importante afetivamente para quem perdeu, e provoca uma ruptura muito profunda e definitiva”, explica Anice Holanda, psicóloga e professora do Centro Universitário Católica de Quixadá.
Embora cada pessoa viva essa dor de maneira única, o luto é uma jornada que, muitas vezes, se intensifica em momentos significativos como o Dia de Finados, quando as memórias são reavivadas e a saudade se torna palpável. A sociedade se mobiliza em um ato coletivo de lembrança com homenagens e celebrações, refletindo o amor e o respeito pelos que partiram.
Anice Holanda pontua que esse sentimento, embora indesejável, é algo inescapável. “Não há outro caminho, a situação de perda é inexorável”. A psicóloga reforça a ideia de que a morte não é um agouro particular, mas algo que vai acontecer comigo que escrevi esse texto, com você que lê agora, com quem você nem conhece, gente que pode ser daqui ou lá do Japão.
Por essa razão, a psicóloga reflete a necessidade da educação para a morte, uma corrente que visa a quebra do tabu em torno do assunto, com vistas a prepará-lo sobre esse fato que, mais cedo ou mais tarde, acontecerá. “É muito importante buscar a conscientização sobre a finitude, sobre o quanto somos grandes e passageiros, para que quando acontecer, não pareça algo absurdo, surreal ou impossível de lidar”.
Há, no entanto, quem não consiga superar o processo de despedida. Tanto é que desde 2022, a atualização mais recente do Diagnóstico Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-V Tr) classifica o luto prolongado como um transtorno mental. São 12 critérios para o diagnóstico, e o enlutado deve se enquadrar em pelo menos seis deles. Além disso, os sintomas devem persistir por mais de um ano. “O luto patológico surge quando os sintomas inviabilizam o funcionamento da pessoa na sua vida, desde a questões biológicas, mas básicas, como sono, alimentação, autocuidado”, explica Anice Holanda.
Não há um tempo certo para viver o luto, pontua a professora da Unicatólica, mas o ideal é saber conviver com a experiência, guardando os bons momentos sem que eles frustrem os que permanecem vivos, e nem os impeça de tocar a vida.