O Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE), por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (GAECO), deflagrou na manhã desta terça-feira (20), a 4ª fase da Operação Gênesis. O objetivo é desarticular uma organização criminosa formada e liderada, majoritariamente, por agentes públicos de segurança. Os alvos são suspeitos dos crimes de extorsão, tortura, comércio ilegal de arma de fogo, corrupção ativa, além de organização criminosa.
São cumpridos 12 mandados de busca e apreensão, sete mandados de condução coercitiva, um mandado de prisão contra um policial militar apontado como líder do grupo, além de medidas cautelares de afastamento das funções de todos os outros seis policias. Entre os alvos estão sete policiais militares da ativa, um policial civil da ativa e quatro integrantes que atuariam como informantes da organização criminosa. Dos mandados judiciais expedidos, cinco são da Vara de Delitos de Organizações Criminosas e sete da Vara Única de Auditoria Militar do Ceará.
As ordens estão sendo cumpridas com o apoio da Coordenadoria de Planejamento Operacional (COPOL) da SSPDS, da Polícia Militar do Ceará e da Coordenadoria de Inteligência (COINT) da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) nos municípios de Aquiraz, Fortaleza, Itaitinga e Pacatuba, no Ceará, e em Itabaiana, na Paraíba.
Investigação
No curso das investigações, verificou-se a prática de crimes por parte de pessoas que se vinculavam a policiais e se estruturavam para realizar ilícitos numa complexa teia de corrupção envolvendo agentes públicos de segurança policial. A organização criminosa praticava crimes de extorsão e tortura contra traficantes com o objetivo de obter vantagens financeiras. Os alvos dos policiais eram cuidadosamente escolhidos entre traficantes com considerável poder aquisitivo ou que já tinham alguma passagem pela polícia, o que facilitava as exigências, as abordagens e o alcance das vantagens almejadas pelo grupo. Os agentes públicos tinham acesso ao sistema de informações da Polícia para selecionar as “vítimas” e planejar as ações.
O modus operandi do grupo funcionava da seguinte forma: os informantes trabalhavam na procura e no levantamento de situações potencialmente lucrativas para o bando, que consistiam principalmente na seleção de vítimas com envolvimento em crimes e com alto poder aquisitivo. Os informantes, então, levavam tais “informações” ao policial militar líder da organização, que passava a orientá-los sobre os detalhes que precisaria para a ação, tais como veículos usados, rotina e principais endereços das vítimas, ao tempo em que selecionava e convidava, a depender do caso, os demais comparsas para a execução.
Com a equipe formada, o alvo passava a ser monitorado através de verdadeiras “operações de inteligência policial” e de pesquisas nos sistemas policiais. As vítimas eram abordadas e levadas para sua residência ou para local mais isolado, onde, por vezes, eram torturadas para que apontasse o esconderijo de drogas e/ou de dinheiro. Assim, elas contraíam uma espécie de “dívida” com os policiais para que não fossem presas, desde que pagassem um determinado valor em dinheiro, que era rateado entre os participantes.
Segundo as investigações, o policial militar apontado como líder do grupo costumava apresentar atestados médicos para ser dispensado do serviço e, assim, ficar mais livre para o cometimento dos ilícitos.