Quixadaense tem a maior coleção de revistas Playboys, em banca na cidade de São Paulo

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Estenio Guerra, o Guerrinha (Foto: Kleber Tomaz / G1)

Filho de Quixadá, dono de uma banca em São Paulo é colecionador de Pleyboys raras.

Colecionador da Playboy brasileira diz que quer leiloar as revistas mais raras para viajar aos EUA e conhecer o criador da publicação.

Um brasileiro de meio século que há 35 anos compra revistas masculinas quer leiloar as ‘joias raras’ de toda a sua coleção de Playboys para conseguir viajar aos Estados Unidos e assim tentar conhecer o fundador da publicação erótica mais famosa do mundo.

Estenio Guerra, o Guerrinha, afirma possuir todos os números da Playboy nacional desde agosto de 1975, quando a revista foi lançada por aqui, até a última edição. Ele se intitula o maior colecionador da marca no mundo. Ao todo são 7 mil exemplares, muitos deles, é claro, são repetidos e ficam expostos na sua banca personalizada, no Campo Belo, Zona Sul de São Paulo.

Ele vive da venda de ‘revista de mulher pelada’ há mais de 20 anos. Para que o estoque não encalhe ou fique empoeirado, Guerrinha sempre arranja uma maneira de comercializar o produto. Chega até mesmo a alugar as edições mais cobiçadas da Playboy, todas em perfeito estado de conservação _plastificadas por ele mesmo.

Memória

No seu primeiro número no Brasil, a revista ainda não se chamava ‘Playboy’. Havia sido batizada de ‘Com o melhor de Playboy – A Revista do Homem’ e trazia a brasileira Livia Mund na capa.

A mudança no logotipo para ‘Playboy’ ocorreu três anos depois, em julho de 1978, quando a norte americana Debra Jo Fondren estampou a edição nacional escondendo o corpo nu com longos cabelos loiros. Até agora, essa foi a revista mais cara que Guerrinha vendeu. “Um colecionador pagou R$ 12 mil por ela”, diz.

Ele investe pesado no marketing pessoal, tanto que já escreveu os seus slogans na banca: “Guerrinha – colecionador e vendedor de Playboy” aparece na fachada e “Guerrinha da Playboy” – o maior colecionador de revista Playboy do mundo c/ mais de 6000 exemplares” está na portinhola.

“Ei, não! A placa tá errada. São mil exemplares a mais agora, escreva aí, por favor”, corrige Guerrinha, que diz ter sido vítima de assalto por causa de suas revistas raras. “Uma vez roubaram um carro todo customizado e adesivado com capas da revista e a minha marca: ‘o rei da Playboy’. Nele havia várias revistas.”

Menos escandaloso, o veículo de agora é todo branco. A banca também é protegida por câmeras de monitoramento de vigilância.

Sonho

Mesmo discreto, com exceção feita ao cabelo pintado de loiro, Guerrinha quer negociar agora a venda das disputadíssimas capas brasileiras da Playboy para ir à mansão onde mora Hugh Hefner, de 85 anos. O criador da revista lançou a primeira edição na América em dezembro de 1953, com o calendário fotográfico de Marilyn Monroe.

Mas quem estiver interessado em adquirir raridades, como as Playboys da então modelo Xuxa (1982), e das atrizes Betty Faria (1978), Lucélia Santos (1980), Vera Fisher (1982), Cláudia Raia (1984), Claudia Ohana (1985), Sônia Braga (1984 e 1986) e Terezinha Sodré (1986) terá de desembolsar muito dinheiro.

“Essas são, sem dúvida alguma, as mais caras em qualquer mercado de revistas masculinas. São as mais procuradas. Vendidas a preço de ouro”, diz Guerrinha.

Na da Xuxa, por exemplo, ele quer chegar a ganhar quase que inacreditáveis R$ 60 mil com o leilão. Não é exagero? “Quanto mais anos passarem, mas ela vai valer”, justifica Guerrinha. Apesar disso, a mesma revista está sendo vendida por até R$ 1 mil em sites da internet. “Com certeza a minha está mais novinha, mas aceito negociar. Quem mais chegar perto do valor que pedi, leva.”

A da Claudia Ohana, por exemplo, custa R$ 2.500, e a de Terezinha Sodré, R$ 1.900. “Elas valem isso mesmo. A Claudia Ohana desperta a curiosidade dos homens que não gostam de mulheres muito depiladas. A Terezinha Sodré foi mulher do capitão da seleção do tricampeonato mundial de futebol”, brinca o colecionador.

Mas a preferida mesmo de Guerrinha é uma de abril de 1983, com a atriz Sílvia Bandeira (quando ainda não assinava Sylvia). Essa não sai por menos de R$ 1.200. “Ah, essa mulher me deixa louco. É linda. A mulher perfeita. Hoje, infelizmente, é difícil encontrar uma mulher que tenha posado como ela, com tudo natural, sem silicone.”

Em outros casos, algumas revistas, como a da ex-jogadora Hortência, são mais baratas, mas mesmo assim são consideradas raridades. “Vale R$ 120, mas é difícil achá-la em sebos.”

Leilão

E como funcionará o leilão? “Vou colocar na internet. Lá na minha página pessoal tem o meu telefone também. É só me procurarem. Outra possibilidade é aparecerem com as propostas aqui na banca”, sugere Guerrinha.

Pelo visto, os fãs da revista vão precisar pechinchar muito se quiserem um desconto. Este cearense de Quixadá afirma que descobriu que também poderia locar as Playboys.

“Isso é o meu sustento. Não é hobby não. Conquistei muita coisa por causa dessa mulherada das revistas. As mais raras eu alugo por R$ 200 cada uma durante uma semana. As demais, por R$ 150, R$ 100. Mas só entrego para quem conheço. No começo, inventei de alugar para um pessoal que devolvia com as páginas todas grudadas umas nas outras, sem qualquer cuidado.”

“Ei, moço? Tem jornal?”, pergunta um homem, interrompendo a entrevista. “Não, não tenho, só tenho Playboys e outras revistas masculinas em menor escala”, responde Guerrinha.

“As pessoas que vão ler essa matéria precisam entender que cada revista desta faz parte da história sexual e cultural do brasileiro. Além de colocar em evidência mulheres famosas e lançar outras ao estrelato, há entrevistas históricas, como a que Ayrton Senna deu, por exemplo, em 1990. O meu público é de colecionadores sérios”, explana Guerrinha.

Mulher ciumenta

Mas o próprio colecionador se entrega ao afirmar que o principal motivo que leva alguém a comprar uma revista dessas são as mulheres que aparecem dentro delas. “Eu mesmo já fui vítima dessa história mal inventada de dizer que comprava a revista para ler as entrevistas”, lembra Guerrinha, que quase viu seu casamento ruir por conta da coleção de Playboys.

“Quando me casei, minha mulher ficou sete anos sem saber que eu guardava as revistas. Um dia ela viu uma caixa, abriu e ops! Não teve jeito. Ela me pôs na parede e determinou: ‘Ou eu ou as revistas’. Fiquei com as revistas, mas depois de alguns meses fui atrás da minha mineirinha para voltarmos. Ela aceitou voltar e aceitou também que eu mantivesse a coleção”, diz Guerrinha, que tem três filhas. “Para você ver, de consumidor virei fornecedor.”

Apesar de investir na publicidade da sua banca, a coleção completa da Playboy de Guerrinha ainda não tem o reconhecimento da própria revista. Nem sequer o recorde foi registrado por algum órgão especializado.

Playboy

Procurada para comentar o assunto, a redação da Playboy brasileira não havia respondido os questionamentos do G1 feitos à sua assessoria de imprensa até a publicação desta matéria. Uma das perguntas é se havia dados de outros colecionadores.

A respeito de recordes, a edição com a personagem Feiticeira, de dezembro de 1999, foi a que mais vendeu no Brasil, segundo a Playboy. Foram 1,247 milhão de exemplares (entre assinaturas e avulsas) comercializados; em segundo lugar, aparece a revista de março de 1999, com a também personagem Tiazinha (1,2 milhão). A apresentadora Adriane Galisteu, que namorou o piloto Ayrton Senna, saiu em agosto de 1995, e teve 962 mil unidades vendidas.

“Eu adoro a Adriane Galisteu. Merecidamente ela vai ser a capa agora da edição de aniversário de agosto deste ano da Playboy”, diz Guerrinha, exibindo uma foto que tirou com a apresentadora de TV.

RankBrasil

O site RankBrasil, que costuma homologar recordes nacionais, também informa que não sabia da coleção de Guerrinha, mas tinha interesse em catalogar e registrar suas revistas.

“Eu quero entrar para o Guiness [World Records]. Duvido que alguém no mundo tenha mais revistas do que eu. Sou o maior colecionador de Playboys que já apareceu”, diz Guerrinha, que começou a colecionar a revista com 15 anos. “Comprava escondido dos meus pais, que são evangélicos e se decepcionaram muito quando descobriram. Mas, por favor, escreva aí que eu não vendo a revista para menores de idade aqui”. A venda só é permitida para maiores de 18 anos.

Para finalizar a entrevista, o G1 pergunta a Guerrinha se ele tem uma foto da mulher dele ou das filhas para mostrar – como as 3×4 que as pessoas costumam guardar na carteira. O colecionador fica desconfiado e como quem quer esconder o ‘ouro’, demonstra que seu ciúme não é somente com as revistas.

“Meu amigo, as únicas fotos de mulheres que tenho aqui são fotos de mulheres peladas que estão na banca. Não tenho fotos da minha família aqui nem vestida e nem despida”, diz Guerrinha, que apesar de admitir que não é nenhum modelo masculino de beleza, se considera vaidoso e fala que a esposa e filhas são lindas. “Você precisava vê-las, mas não vai vê-las não.”

 

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