Opinião: Desconstruindo e reconstruindo Ilário Marques

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Ilario_Marques_fmSe tivesse articulado sua candidatura com mais humildade e menos estrelismo teria sido eleito prefeito, bastava uma pequena negociação.

Um dos políticos mais habilidosos da política de Quixadá, sem qualquer contestação, é Ilário Marques. Prefeito de Quixadá por três mandatos, duas vezes deputado estadual tendo exercido um efêmero mandato de deputado federal. Começou muito cedo na política, aos 22 anos, retirado das lutas sindicais e movimentos estudantis, o jovem advogado já era deputado estadual. Destemido e de língua ferina, atazanava a vida de Tasso, da mesma forma era o terror dos fazendeiros, pois defendia os trabalhadores rurais da exploração e lutava para garantir a reforma agrária no sertão.

Era um líder popular nato, capaz de dar inveja a qualquer revolucionário marxista. No entanto, o destino pregou uma peça nele. Vendo-se na eminência de se tornar prefeito de seu município, aliou-se com quem ele mais repugnava, e pelas mãos de Tasso e Ciro, Ilário derrubou o castelo feudal de Aziz. Teve muita sorte, pois se não fosse o rompimento de Everardo Silveira com Aziz e a adesão de Dr. Mesquita, teria sofrido derrota fragorosa. Por ironia, nesta época seu principal aliado era o PSDB.

Um novo ídolo se construiu na política de Quixadá. O primeiro mandato de Ilário foi revolucionário. Ilário colocou o povão no centro do poder. Mudou a cultura política de Quixadá. Sua administração era austera, popular, criativa e de forte conotação socialista. Mas, ao mesmo tempo, Ilário também enveredou pelo capitalismo, quando quis privatizar os prédios públicos usados por particulares, tendo sido ovacionado até pela Revista Veja.

Da segunda gestão para frente Ilário adotou um novo estilo: o estilo camaleão. Mudava de cor de acordo com a situação. Assim, atraiu para debaixo de suas “asas” todas as forças políticas ditas progressistas. Conseguiu um feito extraordinário de juntar o capital ao trabalho. Todos viam nele um homem visionário e um administrador de mão cheia e por isto demonstravam certa subserviência a ele
 

Ilário formou uma coalizão de forças imbatível. Montou um império municipal e uma corte fidedigna e submissa. Como um mago conduzia a todos com maestria, com uma fórmula perfeita entre doses de carisma e temor. Quando não convencia, usava a força da caneta para derrotar eventuais e possíveis adversários. Foi assim que seu grupo começou a se deteriorar.

Aos poucos foi perdendo aliados importantes: Dom Adélio, José Nilson, Dr. Everardo e família, Renato e Ricardo Carneiro, seu herdeiros políticos Cristiano Góes e Rômulo Carneiro.Ilário parece que não aceitava outra estrela brilhando mais que ele. Ou não confiava nestas pessoas, ou queria se cristalizar no poder se saindo sempre como o salvador da pátria. Para azar de seus inimigos, sua estrela sempre volta a brilhar, pois os prefeitos que o sucedeu conseguem fazer gestões escabrosas e medíocres. Mesmo sofrendo uma saraivada de denúncias diariamente das emissoras de rádio da cidade, tendo enfrentado todas as forças políticas adversárias num ajuntamento conhecido de “Unidos por Quixadá” e vivido uma campanha humilhante e massiva sendo chamado de “ficha suja” e corrupto, Ilário se sagrou como o maior eleitor individual de Quixadá.

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Ilário para seus seguidores é o ídolo inabalável, irretocável, absoluto. Ninguém deve ousar a ser mais sábio que ele, nem contestá-lo, pois na menor contrariedade, um exército de estrelinhas partem para o ataque em defesa de seu líder. Para seus inimigos Ilário é a personificação do mal e esta psicose os levam a enfrentá-lo com um amadorismo ridículo. Para os sãos e pensantes, Ilário é um líder carismático, mas com todas as virtudes e defeitos de qualquer outro mortal. Seu legado ainda é muito forte no subconsciente dos quixadaenses.

Destruí-lo por meio do ódio, do rancor e de denúncias de corrupção não surte efeito, pois se tivesse articulado sua candidatura com mais humildade e menos estrelismo teria sido eleito prefeito, bastava uma pequena negociação.

Ilário voltará, pois enquanto houver prefeitos como Mesquita, Rômulo e João ele sempre continuará presente no imaginário popular como um grande gestor. Mas, se Ilário voltar com as mesmas práticas de antes, cometerá suicídio político, pois seu hedonismo político, não o permite engendrar novos líderes tão competentes como ele. Correremos o risco de Quixadá continuar vendo esta novela enfadonha, onde nós, os reles espectadores, temos que aturar personagens sem graça, sem direito a trocar de canal por quatro anos, esperando que o mocinho venha salvar a maltratada mocinha de nome Quixadá.

Por Odorico Paraguassu / o autor assina como pseudônimo


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