Coluna Amadeu Filho: Zé Pereira – o símbolo do carnaval de Quixadá

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Zé Pereira-símbolo do carnaval quixadaense (foto: RC/Amadeu Filho)

Com saudades dos velhos e inesquecíveis carnavais que aconteceram na Terra dos Monólitos, resolvi dar uma olhada nos meus arquivos fotográficos e me deparei com algumas imagens que retirei dos arquivos da “Associação dos Filhos e Amigos de Quixadá“, instituição que é sediada em Fortaleza e que congrega filhos da bela cidade e aqueles que são apaixonados pela terra de Rachel de Queiroz.

São imagens que apresentam o ícone de nosso carnaval, o Zé Pereira, em sua doce juventude brincando no inesquecível bloco “Os Foliões da Bossa Nova” que durante algum tempo alegrava a nossa folia. Vendo aquelas fotos chegamos à conclusão de que Pereira é, sem sombra de dúvida, um símbolo do carnaval quixadaense. Esta festa popular tem que ter confetes, serpentina, pierrot, colombina, palhaços, marchinhas e Zé Pereira.

Este ícone de nosso reinado de momo está presente nas lembranças daqueles que viveram os inesquecíveis carnavais de velhos tempos ou naqueles que se dedicam a pesquisar o Quixadá antigo. Uma conversa com ele nos leva a viajar ao passado  e assim temos de volta aquele clima dos antigos carnavais e parece até que vemos na nossa frente a explosão de alegria dos brincantes dos “Foliões da Bossa Nova” sob a batuta do maestro Pereira. Belos dias dos anos 60, 70(século passado) numa cidade em que as pessoas pareciam obrigadas a ser sempre felizes. Este bloco era a felicidade dos quixadaenses.

Pereira e seu bloco “Foliões da Bossa Nova”- Cortesia da Associação dos Filhos e Amigos de Quixadá

Durante o dia, o bloco desfilava pelas ruas levando muito divertimento à todas gerações. Quem estava trabalhando no comércio ia para a rua assistir a apresentação do bloco e o mesmo acontecia com os alunos que saiam das salas de aula para ver o “olé” que o Pereira dava com seus passes de um grande bailarino e com aquela cara de palhaço que ganhava os aplausos de crianças e velhos. Na verdade, muitas famílias ficavam sentadas à beira das calmas ruas de nossa cidade para ver Pereira e seus foliões passarem conduzindo amor e alegria. A passagem dos “Foliões da Bossa Nova era aguardada ansiosamente pelas pessoas. Naqueles belos dias parecia que tudo era muito bonito na divina e graciosa cidade.  Não prevalecia outro interesse que não fosse a alegria.  No período da noite, o bloco realizava uma apresentação na Praça José de Barros e em seguida comparecia aos clubes para levar aquela animação aos bailes. Alguns dos componentes se apresentavam com óculos escuros, chocalhos, pandeiros, calças de chitão, meiões de jogador, camisas, mangas compridas em cores vivas, fitas multicoloridas nas calças fazendo com que, por algum tempo, o carnaval acontecesse no paraíso.

Ele lembra que havia alguma rivalidade entre os blocos, especialmente com o “Descendo o Morro” comandado pelo amigo Chiquinho. Mas, passada a brincadeira, todos conviviam com muito respeito e amizade. Faz questão de ressaltar que havia ajuda do poder público e sempre teve o apoio do prefeito José Okka Baquit que também assistia aos desfiles. Lembra, porém, que a grana era curta e tirava do próprio bolso para que nada atrapalhasse o desfile.

Pereira-Ícone de nosso carnaval

Ainda criança, Zé Pereira chamava a atenção dos pais Chico Pereira e Antônia Luciana, pois ficava batendo em latas durante boa parte do dia. Muitas vezes, fugia da aula da professora Nana para ver o carnaval feito por gente grande. Nas festividades do Grupo Escolar José Jucá era sempre convidado pelos professores para animar os eventos festivos. No rádio “Semp”, ouvia as principais musicas do carnaval daqueles anos. Rapazinho ainda, precisou trabalhar para ajudar no sustento da casa e no ano de 1957 começou a fazer parte dos quadros das “Casas pernambucanas”. Lembra que sempre teve o apoio do gerente Carlos César que o liberava para os ensaios do bloco que comandava com tanta dedicação.

É bom lembrar que também gritava as quadrilhas nas festa juninas e rezava as novenas dos padroeiros Jesus, Maria e José. Hoje, com noventa e poucos anos, Pereira tem plena consciência de que o bloco “Foliões da Bossa Nova” e aquele alegre carnaval é apenas uma gostosa saudade. Chora, bem baixinho, ao lembrar dos colegas do bloco que nos dias de hoje, brincam lá no céu e daquela cidade calma e sempre alegre.

Na última visita que lhe fizemos lembrou que nos últimos anos, ia para a cama mais cedo e respeitando este seu novo momento, nos despedimos ao som de “Aurora”, marchinha carnavalesca de sua preferência. Com certeza, nos sonhos do guerreiro estarão presentes muitas fantasias de palhaços, pernas de pau, piratas, colombinas, confetes, serpentinas e o seu amado bloco “Foliões da Bossa Nova”. Aplausos para Zé Pereira! Ele é um símbolo do carnaval quixadaense!

____Autor_____

Amadeu Filho
Colaborador da RC
Colunista
Radialista Profissional