EDITORIAL: Um ano da pandemia no Brasil. Os números avançam mas nossas ações, não.

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Pandemia provocou todos os tipos de colápsos, até mesmo o funerário, fazendo com que caixões fossem deixados na porta das residências, no Equador.

Superar tempos passados, compõe parte do processo de amadurecimento e de crescimento psicológico que nos torna fortes. Mas nem sempre olhar para trás nos dá a certeza de que amadurecemos. A pandemia do coronavírus completou um ano na última semana. Exatamente 365 dias depois que o Ministério da Saúde confirmou o primeiro caso do paciente contaminado com o vírus, temos hoje um número assombroso, que ultrapassa a casa dos 250 mil mortos. Difícil até de acreditar.

Foram tempos difícieis, que exigiram de nós o máximo de um auto-cuidado. Nunca antes fomos obrigados a viver trancafiados, sob as condições que nosso lar nos oferecesse. Doenças são comuns, mas como adultos, vimos nossa fragilidade diante de algo invisível que nos obrigava a permanecer dentro de casa. Sair virou sinônimo de infração, sob pena de multa e até detenção em algumas cidades. Foi necessário agir com dureza para mostrar que a máscara no rosto passaria a ser um adereço comum nosso, como o relógio no braço ou a calça que vestimos.

O vírus se espalhou, ganhou forças, se mutiplicou. De epidemia passamos a pandemia, uma condição assombrosa, que causou estranheza em que antes só era acostumado a ver essa palavra no noticiário internacional ou nos livros de história. Mas a história estava se escrevendo ali, bem diante dos nossos olhos, e sob condições penosas, que tirou de nós pessoas que amamos, deixou outras tantas doentes e sequeladas, e nos ensinou que era uma questão de tudo ou nada: era seguir as medidas, ou padecer dos males que o invisível vírus acarretaria.

Olhar para trás é díficil, sim. Não é fácil aceitar os episódios que assistimos. Ver um governo que nega as condições da pandemia, que debocha do cenário grave, que brinca com as dores dos brasileiros. É inquietante ver um país gritar por medidas mais coerentes, mais pujantes, mais acertivas, que tirasse o mínimo de chance de sermos vítimas por causa da omissão ou do descaso do trabalho que deixara de ser feito pela saúde pública de um modo geral. Os pequenos, nos municípios, até se esforçaram, viraram heróis, mas não conseguiram muito. A força superior nem sempre veio e foi difícil lutar sem forças suficiente para ir à guerra.

Mas também não nos livramos da prerrogativa de sermos cobrados. Assistimos a uma onda revoltante de questionamento com a doença, uma cena difícil de aceitar: ver gente morrendo nos leitos sem ar, enquanto na outra ponta, pessoas abriam caixões duvidando de que ali existiam corpos, e espalhavam via whatsapp as cenas mais pitorescas, num coro ensaioado para descredibilizar a luta que se buscava travar, dia após dia, para vencer a pandemia.

Muitos se foram. Mais de 250 mil nos deixaram. E enquanto uns usavam radicalmente máscara e seguiam os decretos, outros pareciam viver em mundos alternativos, onde o coronavírus é apenas uma criação política para fazer os estados ganharem mais dinheiro. Esse comportamento nos leva a pensar que parece termos retrocedido no tempo, e agir de maneira infantil, quando deveríamos dar lição de gente grande. A pandemia ainda não acabou. É necessário refletir muito sobre quem nos governa, e como nos auto governamos. Esse momento também diz muito sobre o que fomos e o que somos nessa pandemia. E enquanto não unirmos forças e agir coletivamente, nada será válido. Serão outros 250 mil ou mais, mortos.

A EQUIPE.