Crise de indisciplina atinge a PM do Ceará com 264 militares afastados em 2020

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A Polícia Militar do Ceará informou que até agosto deste ano, 264 PMs já haviam sido afastados de suas funções em 2020; no ano passado, foram apenas 18 servidores. A corporação responsável pela segurança primária da população sofre uma verdadeira crise de indisciplina, agravada desde a greve ocorrida em fevereiro último.

Até o dia 20 de agosto de 2020, 80 policiais militares já haviam se tornado réus em procedimentos investigados pela Promotoria de Justiça Militar e Controle Externo da Atividade Policial Militar, do Ministério Público do Ceará (MPCE). Em todo o ano passado, foram 172 servidores públicos da área que tiveram suas denúncias aceitas pela Justiça. O órgão investiga crimes militares cometidos no exercício da função ou fora dela, mas que tenha conexão com a atividade.

A Promotoria denunciou 81 PMs neste ano; dos quais 40 foram por cometimento de crimes graves, como extorsão, concussão, tráfico de drogas, peculato, roubo e tortura. De acordo com o promotor da Justiça Militar, Sebastião Brasilino de Freitas, o número chama atenção pela quantidade. “Nós temos em torno de 21 mil homens na Polícia Militar. É um número alto? É. Porque deveria ser menor”, afirma, ao explicar que a maioria dos casos se dá por crimes típicos de caserna, como desobediência, desrespeito e deserção – os quais são considerados graves na estrutura militar.

Segundo Brasilino, há também casos de crimes como o uso de documento falso: “às vezes, aqui e acolá, tem um que apresenta um atestado falso no quartel”, cita, exemplificando outros delitos como lesão corporal e tortura. Por esses dois crimes, 12 agentes se tornaram réus no último dia 17. Eles são suspeitos de ter torturado dois homens no bairro Antônio Bezerra em junho de 2018. Vídeos de câmeras de vigilância flagraram as ações dos policiais suspeitos e ajudaram a montar a denúncia encabeçada pelo Núcleo de Investigação Criminal (Nuinc), do MPCE.

Os servidores devem sentar no banco dos réus para explicar imagens, depoimentos e o porquê de terem cometido os crimes. Segundo a denúncia, uma das vítimas foi retirada de casa de forma violenta e conduzida até um terreno baldio. Lá, teria sido torturada para indicar nomes de possíveis traficantes de drogas da região. A outra vítima, segundo o órgão ministerial, foi algemada e espancada com chutes, pontapés e socos, além de uma sessão de afogamento no seu próprio banheiro.

Arquivados

Neste ano, por outro lado, até 20 de agosto, a Promotoria Militar já havia pedido 793 arquivamentos de processos contra policiais militares – o número é quase dez vezes maior do que o de denunciados pelo órgão no período.

Em 2019, foram 308 pedidos de arquivamento. Segundo o promotor, a quantidade é alta porque “tudo o que se faz ou que se diz de um militar é apurado”.

Conforme Sebastião Brasilino, o número deste ano, porém, tende a crescer bastante por causa da finalização das investigações sobre militares que participaram do motim, promovido por parte da corporação, entre fevereiro e março deste ano.

“Serão muitos denunciados por conta do movimento que eles participaram, que é um crime gravíssimo à luz do Direito Penal Militar. A pena é de oito a 20 anos. Ali, para se ter uma ideia da gravidade, aquele tipo de crime em época de guerra, a pena é de morte”, afirma.

Segundo o promotor, o processo estava andando mais lentamente por causa da pandemia, mas agora retornou ao seu ritmo normal.

Até o momento, seis PMs se tornaram réus em decorrência do motim do início do ano. A denúncia da Promotoria foi aceita no dia 16 de março e teve como alvo o ex-deputado federal e cabo da Reserva Remunerada da Polícia Militar, Flávio Alves Sabino. Para o MPCE, ele foi o principal líder do movimento. Brasilino afirma que fez uma recomendação e a enviou aos quartéis explicando o que aquela conduta poderia provocar. “Fizeram? Pois responderão agora, e a pena é gravíssima”, diz.

Com informações do Cn7