Filho de diarista, jovem de 20 anos cria robôs em casa com material reciclável e fica conhecido como “Gênio Ibicuitinga”

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Região Central: Pelo que o jovem Lucas Ferreira faz, é possível dizer que até demorou que ele ganhasse destaque na mídia cearense. De eletrodomésticos e eletroeletrônicos que já não servem mais para uso diário, ele retira peças que servem para montar um robô. Uma de suas últimas invenções, por exemplo, foi criada com um sensor de um mouse que acoplado a um boné, serve para que deficientes visuais saibam quando estarão próximo a um obstáculo, já que o sensor gera um alerta sonoro.

No último sábado (1º) o jovem que graças aos seus inventos ganhou o nome de “gênio ibicuitinga”, ganhou destaque em alguns dos maiores e mais importantes veículos de mídia do Ceará: o jornal Diário do Nordeste e o site G1 CE, que pertence às afiliadas da TV Globo pelo interior do país. Por mais de duas semanas, a equipe do Portal Revista Central buscou informações mais detalhadas sobre os trabalhos de Lucas, mas não conseguíamos. Nossa direção recebia vídeos que circulavam em grupos de WhatsApp, e tentávamos encontrar alguém em Ibicuitinga que pudesse nos levar até o jovem para uma entrevista, mas nossos esfosços foram em vão. Por tanto, o que você vai ler a seguir é uma matéria sobre o jovem que saiu no site G1 Ce, contando sua história, o que ele faz e o que podemos fazer para ajudá-lo.

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Lucas: protótipos de robótica inventados a partir de peças recicláveis: ‘gênio Ibicuitinga’ (Fotos: Jefferson Maia)

O trabalho com robótica do jovem Lucas Ferreira, de 20 anos, ganhou as redes sociais após o morador da cidade de Ibicuitinga no interior do Ceará, a 197 km de Fortaleza, construir três protótipos de robôs utilizando apenas sucata de eletrodoméstico e materiais recicláveis disponíveis em casa. Conhecido como ‘Gênio de Ibicuitinga’, Lucas finalizou, neste sábado (1º), um sensor de proximidade de obstáculos para auxiliar deficientes visuais. Cada projeto leva, em média, uma semana para ser finalizado.

Egresso da rede pública estadual, o estudante garante que todos os projetos nascem primeiro ‘na imaginação’ antes de serem materializados. O Colossus, um dos robô mais recentes, levou cerca de sete dias para ficar em pé. Para conseguir montar e mover as estruturas, o jovem utiliza conceitos da engenharia mecânica, como o ‘pulso magnético’.

“Eu utilizo principalmente placas de aparelho DVD. Ele tem uma pecinha chamada pressão hidráulica que é muito cara. Então pego essa peça dessa placa. É necessário porque como eu não tenho muito domínio na parte de programação ainda, uso esses conceitos mais estruturais para fazer o que eu penso”, explica Lucas.

As principais referências, diz o inventor, vêm de empresas estrangeiras da área de robótica, como a estadunidense Boston Dynamics, que constrói estruturas autônomas com inteligência artificial. “Eu assisto muito os vídeos deles. Quando eu gosto de algo tento replicar através da técnica de engenharia reversa”, explica o jovem. A engenharia reversa é uma técnica usada por engenheiros para entender o funcionamento de dispositivos. Ela consiste em desmontar e remontar um aparelho para perceber as conexões.

Mas reconstruir os robôs fabricados pela empresa de tecnologia é inviável para o rapaz já que ele não tem acesso ao material original. Lucas contorna o problema usando a imaginação. “Eu assisto o vídeo, desmonto o robô deles na minha cabeça, e tento fazer as peças que eu acho legal com os materiais que eu tenho”, indica o jovem.

Neste sábado, ele começou e finalizou outro trabalho: um aparelho para auxiliar deficientes visuais. As únicas peças usadas pelo inventor foram um boné e sensor de mouse. “Serve como um aviso para proximidade de obstáculos. Quando o deficiente chegar perto de alguma estrutura, o aparelho apita”, elabora o jovem, que pretende cursar Engenharia da Computação na Universidade Federal do Ceará (UFC).

Com sensor de mouse em boné, ele criou um alerta de obstáculos para deficientes visuais

Orgulho
Orgulhosa do trabalho do filho, a diarista Cícera Ferreira, 38, relembra que a paixão pelos estudos e a dedicação em aprender coisas novas são a marca de Lucas. Cícera conta que descobriu o interesse do inventor pela tecnologia quando o rapaz começou a pedir peças de eletrodomésticos velhos.

“Um dia ele chegou com um ventilador quebrado e perguntou: ‘mãe, se a senhora não quiser mais isso, eu posso usar? E fui deixando. Isso foi para outras coisas, tampa de panela, tampa de pote. Quando fui ver ele estava era construindo uma mão mecânica”, brinca a mãe.

O interesse de Lucas pelos projetos fez com que ela recorresse ao analista de sistemas Jefferson Maia, filho de uma das famílias para qual a diarista presta serviços. Como Maia trabalhava no setor de tecnologia, a mãe pediu que ele fizesse uma visita ao jovem para ‘ver uns brinquedos’. “Fui despretensiosamente e quando cheguei lá fiquei surpreso. Não eram brinquedos comuns”, relembra Jefferson. “O menino, que acabou de sair do ensino médio, movimentava uma mão biônica com tampinha de garrafa presa na testa”, conta, admirado.

Jefferson publicou vídeo dos robôs em uma rede social e compartilhou com colegas de uma comunidade de tecnologia cearense, a Arduino Ceará. Foi através do repasse que o fundador do grupo, o engenheiro mecatrônico Sandro Mesquita, 38, teve acesso aos protótipos do inventor. A surpresa veio na sofisticação das estruturas montadas por Lucas, conta Sandro.

“Não é como se o que ele faz estivesse disponível em tutoriais na Internet. Ele descobriu, sozinho, como aplicar conceitos sofisticados de mecânica sem ter um conhecimento prévio. Ele pega parte de um secador, parte de um DVD, e vai conseguindo fazer a conexão e a automação de outro. Não tem como pesquisar esse processo. É complicado até para engenheiro formado”, ressalta o engenheiro, que também leciona na rede de escolas profissionalizantes do Estado.

Um dos robôs criados por Lucas

Apoio
Mas nem sempre as peças para os protótipos estão disponíveis na casa da família de Lucas. À espera do material necessário, muitos robôs acabaram sendo desmontados até que o pedaço fosse providenciado. Movidos pela dedicação do rapaz, amigos levaram até o inventor peças sobressalentes de eletrodomésticos.

“Geralmente, ele pede algumas coisas, como placa de aparelho DVD, motor de liquidificador. Se eu não tenho, eu peço para lojas de conserto. Mas alguns conhecidos já chegaram a doar também os aparelhos que não tão usando. Ele fica morto de feliz”, conta a mãe, Cícera.

A procura por novos circuitos não poupa nada na casa da diarista. “Uma vez quase que o meu liquidificador entra no meio. Eu fiquei ‘Lucas, pelo amor de Deus, meu filho! Então fui atrás da peça que ele queria, que era o motor. Além disso, ele precisava de um monte de fio. Comprei mais de R$ 40 e não deu vencimento, ele ainda precisou de mais”, brinca a diarista.

Para que o jovem não fique sem os materiais Sandro Mesquita e os outros membros da Arduino Ceará organizam uma campanha de arrecadação, além de uma uma vaquinha virtual para complementar o equipamento do jovem, composto por celular emprestado e um tablet. “Estamos nos preparando para oferecer peças mais profissionais para ele e juntar dinheiro para comprar um notebook, já que tudo o que ele tem é um celular emprestado”, aponta Sandro.

A previsão para lançamento é para a próxima segunda-feira (03). Por enquanto, a equipe foca em manter se organiza para manter o processo de arrecadação o mais transparente possível. “Não queremos que as pessoas pensem que esse dinheiro vai pra outro lugar que não para o Lucas. Nosso objetivo na Arduino Ceará é exatamente esse, de ser uma vitrine para novos talentos. Estamos formalizando contatos com contadores para deixar tudo certo para ele e para a família”, garante Sandro.

O ponto de entrega é na sede da Arduino Ceará, que fica localizado na Rua Aspirante Mendes, 296, no Bairro Aerolândia, em Fortaleza.

Conteúdo do G1 CE