Quixeramobim registra mais de mil tremores de terra e espalha medo no sertão

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A região de Quixeramobim, no interior do Ceará, registrou mais de mil abalos sísmicos desde o meio de março até agora. O fenômeno afetou algumas casas e preocupa moradores, mas autoridades afirmam que não há motivo para alarde e montaram um atendimento para diminuir os medos.

O primeiro tremor foi registrado no dia 18 de março. Desde então, até a última quinta-feira (2), foram captados 1.058 eventos, ou uma média de mais de 20 abalos por dia. Segundo Eduardo Menezes, sismólogo da RSBR (Rede Sismográfica Brasileira), é o que estudiosos chamam de enxames sísmicos

“Esta é uma região sismicamente ativa, então não é tão incomum que haja pequenos abalos. A diferença para este fenômeno é a frequência. Começa com pequenos casos e, durante um determinado período, há recorrência e pode chegar a maiores, como chegou”, afirma o estudioso, que acompanha o caso pelo Laboratório de Sismologia da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).

Menezes explica que a principal questão, inclusive ao informar a população, é que não se sabe quando o fenômeno irá parar. “A preocupação é com a continuidade e a intensidade disso.

Em nenhum lugar do mundo se consegue prever tremores, o que podemos fazer é acompanhar”, diz. Segundo ele, o fenômeno pode durar .

Marcas em casas e até em cidades vizinhas

Rachadura vai até o chão após tremores em Quixeramobim, no Ceará Imagem: Defesa Civil de Quixeramobim.

Os tremores frequentes têm preocupado os moradores da região, a cerca de 230 km de Fortaleza. Segundo Menezes, mais de 90% destes abalos não conseguem ser sentidos pelos cidadãos, mas três deles se destacaram e causaram danos em residências.

No dia 20 de março, houve um tremor de 2.9 de magnitude, seguido por outro de 3.0 no dia 30 de março e o maior deles, de 3.3, ocorreu em 18 de abril. Este último também foi sentido nas cidades vizinhas de Boa Viagem e Madalena e causou danos em algumas casas da cidade. Uma delas teve de ser interditada.

O problema, segundo o especialista, foi a frequência. “Se ocorre um abalo, mesmo que um pouco mais forte, e depois não há sequência, não vai causar nada. Agora, quando tem um de 3.0 de magnitude e vários outros em seguida, mesmo pequenos, começam a aparecer certas fissuras nas construções”, explica Menezes.

Ansiedade e medo

Ainda assim, especialistas e autoridades dizem que não há motivo para alarde. A Defesa Civil da cidade diz estar acompanhando todos os casos ativamente desde o primeiro registro e procura acalmar a população para evitar que as pessoas abandonem suas casas.

“Como as pessoas daqui não têm o costume de conviver com esse tipo de evento, elas deixaram de dormir, começaram a apresentar sinais de ansiedade e outras questões psicológicas”, conta Marcos Machado, assessor técnico da Defesa Civil de Quixeramobim.

Segundo ele, a prefeitura abriu um consultório de psicologia para atender aos cidadãos. “Estamos trabalhando para tentar desmontar esse medo das pessoas”, afirma.

“Tremor de terra é um fenômeno da natureza, como a seca e a chuva. Nos livros se dizia antigamente que o Brasil não tem abalos, mas existe em alguns locais”, explica Menezes. “Com esta frequência, é natural que as pessoas fiquem com medo, mas temos de informar melhor para evitar o êxodo.”

O assessor da Defesa Civil afirmou que, até então, fora o local interditado, não houve registros de pessoas que saíram de suas casas ou deixaram a cidade. “Vamos seguir acompanhando”, conclui Menezes.

Com informações do portal Uol