Amadeu Filho: Valdinha Bezerra – 90 anos, uma linda história de dedicação e amor aos alunos, familiares e amigos

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A professora Valdinha Bezerra completará 90 anos e recebe homenagem (foto: Amadeu Filho/RC)

Ela a todos conquista facilmente. Fonte de inspiração para seus alunos e para todos nós. De caráter honesto, digna e mulher potencialmente humana. Somente os professores conseguem coisas maravilhosas que aos outros não é permitido. Aqueceu o coração dos seus alunos, dos familiares e amigos com toda a sabedoria, carinho e paciência. Mulher de extraordinária personalidade e de lugar garantido no lado esquerdo do peito dos filhos da terra dos monólitos.  Há pessoas que nos marcam de uma forma tão forte que não dá para ficarmos longe desta doce e abençoada presença. A querida professora Valdinha Bezerra é uma dessas privilegiadas, pois a todos conquistou, seja na sala de aula ou transmitindo o tesouro da fé na atuação incansável como catequista sempre procurando dar o rumo correto na fé das pessoas.

Linda normalista

Seus ensinamentos, carinho e dedicação estarão sempre guardados na memória e no coração de muitos quixadaenses. Naquele Quixadá dos anos 30, do século passado, em que tudo levava a crer que morávamos no céu. Uma menina brincava com o seu irmão mais novo João Bezerra e sempre atendendo as recomendações da bondosa senhora Ester Bezerra da Silva para não saírem à rua. Sua mãe foi uma costureira de muitos talentos enquanto o pai João Vitoriano da Silva exercia a atividade comercial.

Valdinha teve como primeira professora a dedicada mestra Maria Cavalcante Costa que logo percebeu naquela menina uma grande vontade de aprender a ler e escrever e, na verdade, não demorou muito tempo para isso acontecer. Continuando os estudos iniciais, tornou-se aluna da professora Ceci e neste momento já lia com desenvoltura. Sempre dedicada à vida escolar passou a frequentar o Grupo Escolar José Jucá aí ficando até concluir o quinto ano. Interessante destacar que naqueles anos, ter concluído a quinta série já era permitido lecionar.

Embora muito jovem, Valdinha começou a sua trajetória como professora que a tornaria uma mestra muito querida e respeitada. Era a década de 40 do século passado e quem governava a nossa cidade o estimado farmacêutico Eliezer Forte Magalhães que atendendo um pedido da dona Ester possibilitou a esforçada jovem fazer um curso que lhe permitisse lecionar. A sua irmã Violeta que já pertencia ao quadro de professores do município foi exercer suas atividades em outras localidades e então sua vaga foi ocupada pela irmã. É sempre bom lembrar que naquele tempo alguns educadores exerciam sua atividade na zona rural, geralmente na fazenda de ricos senhores com o objetivo de ensinar os jovens da família dos donos e dos moradores mais próximos.

Eliezer percebendo o interesse da jovem pela carreira do magistério a incentivou frequentar o curso do Normal Rural no  Colégio Sagrado Coração de Jesus (Colégio das irmãs). Irmã Firmina a achou muito jovem e ficou triste ao saber que ela não tinha condições de pagar e então falou com a irmã Plácida que a convidou fazer o exame de admissão, tornando assim possível pertencer ao corpo de alunos conceituado estabelecimento de ensino. A bela jovem tirou o primeiro lugar o que deixou a mamãe Ester e os irmãos muito felizes.

Imagens da família

Lembra emocionada das suas professoras do Curso Normal Rural  como por exemplo, Irmã Sebastiana, Venerábilis, Plácida, Modesta, dentre outras. Foram suas colegas de classe: Maria Braga, Mirtes Enéas, Marinalva, Magna, Eunice, Maria De Lurdes Sales, Margarida Canabrava, dentre outras. Valdinha lembra da festa de solenidade de entrega dos diplomas que aconteceu nas dependências do Cine Paroquial com as presença dos familiares e convidados. A partir daí começou verdadeiramente a sua atuação como educadora, logo conquistando o carinho e o respeito de todos. Naquele tempo não era muito fácil conseguir um contrato para lecionar pelo estado, mas, devido à interferência de Eliezer, ela conseguiu.

Faz questão de ressaltar que o Padre Luís Braga Rocha sempre a incentivou, inclusive tornando possível a participação em um curso profissionalizante que lhe deu melhores condições para enfrentar as salas de aula. Valdinha se destacou e passou a coordenar o curso de bordado e além do aprendizado, a convivência tão amiga com Teresinha Basílio e Mirtes Enéas.  Foi nomeada pelo Estado e passou a exercer sua atuação como educadora no Colégio Sagrado Coração de Jesus, um dos sonhos de dona Ester.  E assim se passaram 10 anos que foram marcantes para aquela jovem professora. Ela sempre gostou de aprender mais, participar de cursos e achou que precisaria trabalhar num estabelecimento estadual, pois escolas particulares nem sempre oferecem oportunidades de participação neles.

Imagens da família

Iniciou suas atividades em escolas públicas no Grupo Escolar José Jucá onde foi muito bem acolhida pela diretora Naidinha Bezerra e por toda a equipe. Não demorou muito e  assumiu o cargo de direção realizando um eficiente trabalho pedagógico e sempre procurando melhorar a estrutura física do grupo. Quando terminou seu tempo como diretora, continuou no grupo que conquistou o seu coração e agora como professora.  Foram dois anos inesquecíveis como ela mesmo enfatiza e da convivência com grandes amigas como Elvira Costa, Naidinha, Cezarina, Maria Guedes(Tuzinha) e por fim todos que integravam aquele sadio ambiente escolar.

Esta guerreira da Educação não parava e também cuidou da educação de jovens e adultos conquistando o reconhecimento da comunidade pelo seu eficiente trabalho. Teve entre seus alunos o estimado casal Odilon e Cefisa, dentre muitos outros.

Queria aprender mais e frequentou durante 6 meses o curso de Inglês, obtendo a autorização para lecionar esta língua universal. Chegou o momento do colégio Estadual e aí ficou 10 anos lecionando Inglês e posteriormente o ensino religioso. Para lecionar Religião foi necessário uma autorização de Dom Rufino que logo foi concedida. Integrou ainda por alguns anos, a equipe de educadores do Ginásio Municipal. Por algum tempo atuou como educadora no Ginásio Valdemar Alcântara(colégio do padre) mas apenas por amizade a equipe daquele estabelecimento sem receber renumeração.

Além do profícuo trabalho como educadora, se destacou também na sua efetiva participação nas atividades da igreja especialmente como catequista que assumiu com muito amor e alegria pois achava(e acha) ser edificante doar parte do seu tempo na divulgação do evangelho.

Faz questão de afirmar que ser catequista é procurar imitar a Cristo. Ela percorreu muitos caminhos na cidade e no sertão com o objetivo de levar conforto para as famílias e quando foi possível, também fez campanhas de doação. Tinha uma convivência saudável com os jovens que a adoravam e a tinham como uma irmã, uma quase mãe.

Fazia caminhada com crianças, jovens e até adultos e se apresentava em auditórios das escolas e outros locais, entoando cânticos religiosos. É preciso destacar que Valdinha sempre contou com o apoio dos familiares nas suas opções. João Bezerra, Zizi, Violeta, Gumercindo e enfim todos lhe deram forças na conquista de seus objetivos. Hoje, tudo o que viveu são doces recordações para esta querida mulher que está prestes a completar 90 anos e continua a amar as pessoas, as plantas, os animais e sem esquecer dos ex alunos e colegas do magistério.

Com sua amiga Rachel de Queiroz em meados dos anos 80

Ela mora na mesma casa em que nasceu e a vizinhança a tem como uma pessoa muito próxima e sempre presente. Não é difícil vê-la, sorriso bonito, cuidando de suas plantas a quem considera como irmãs, pois elas além de deixarem a casa mais bonita melhoram a qualidade de vida das pessoas. Pessoas doces, queridas como Valdinha são tão raras e por isso quando estamos na sua companhia essas horas não podem ser roubadas. Valdinha, nós quixadaenses gostaríamos de agradecer por tudo que fizeste pela educação dos filhos desta bela cidade. Senhora que sabe muito da vida, mas sem perder o jeitinho de menina. Sorriso de santa, coração escancarado para os amigos, bondade para dar e vender e uma simplicidade marcante apesar da enorme importância como educadora e grande benfeitora da terra dos monólitos. Nossos eternos agradecimentos a esta querida mulher por ter lapidado e ensinado os melhores caminhos para os jovens quixadaenses. Receba querida mestra um grande abraço carinhoso e agradecido por tudo que fizestes(e faz) por todos nós.

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Autor

Amadeu Filho
Colaborador da RC
Colunista
Radialista Profissional